Anti-social mundial

Hoje é dia de fazer amigos

Hoje é dia de fazer amigos

Por Dany Darko*

Convidada para cinco casamentos neste ano, estou virando expert no assunto. Vocês sabem, casórios são um prato cheio para análise da Phinesse, até porque, nessas ocasiões, comilança parece se transformar em regra. Mas vou pular toda a parte da igreja, do « sim », da chuva de arroz e das lágrimas para passar para o pior momento da minha participação do meu último e segundo casamento – o do cunhado: sintam a responsabilidade.

E a responsabilidade era tão grande que estávamos eu e petit-ami sequestrando garrafas de champagne sob a desculpa de que ele é o irmão do noivo. Minha necessidade de quebra de protocolos incitava as ousadias de meu querido namorado, enquanto pessoas blasés emborcavam seus apéritifs com selvageria e sem moderação.

Ao invés de ficarmos mendigando champagne ao redor da mesa de serviço onde o povo se aglomerava, pedimos já a garrafa inteira que bebemos ao pôr-do-sol da bucólica campagne française. Não fomos socializar porque, quando se come e bebe, não se socializa que dá NOZZO, né. E mais, ficar disponibilizando minha bela cútis aos cuspes dos outros que estão mais interessados em bater seus recordes de engolimento de salgadinhos por segundo, NOT.

E, então que, no momento de entrarmos para a janta, descobrimos que não estávamos na mesa das duas únicas pessoas da festa com quem queríamos estar, um casal de amigos de infância de petit-ami. « Mas, não se preocupe » – garantiu-me a sogra. « Vocês foram colocados em uma mesa de pessoas bem jovens e simpáticas. Vocês vão se dar muito bem ».

Temi pelo destino daquela noite quando ouvi a definição da sogra e não acreditei em nenhuma das duas possibilidades, já que nem eu mesma fazia parte delas: nem jovem, nem simpática. Fui invadida total por um desespero emo « leave me alone, i wanna die » enquanto nos encaminhávamos para a mesa. Total desespero de socializar com estranhos e/ou semi-conhecidos.

Quando chegamos ao nosso destino, encontramos os primeiros integrantes: uma prima de petit-ami e seu digníssimo namorado com cara de pedante.

Nota: acredito que casais fazem parte de um equilíbrio de personalidades e características. Nunca um cara lindo, inteligente e interessante namora uma guria que contenha os mesmos quesitos porque, desse jeito, não funciona. Dizem que o amor completa, não é?

É, então, conheço de algumas poucas conversas a prima de petit-ami. É do tipo de criatura que fica linda sem maquiagem e penteado, que é bem-sucedida e não demonstra, que é inteligente sem ser pseudo-intelectual, pesquisadora. Phina, phina. E o companheiro? Deixo a cargo da imaginação de vocês…

O segundo casal a chegar na mesa é destoante. Ele, sorriso forçado, (breguíssima) camisa rosa estampada aberta aparecendo os pêlos do peito e aparelho profissional de fotografia pendurado no pescoço. E ele não era o fotógrafo da festa. Ela, vestida de preto, cara « emburrada, saco cheio, sai daqui ». Apoiei a moça, ela tinha razões para tanto mau-humor.

Por fim, chega o casal simpático, não-jovens, músicos. Ela, cabelo azul, alternativa, descolada e social. Ele, tirando o cabelo azul, igual a ela. Ou seja, não vai durar.

Então que começam as apresentações, cada um conta o que faz da vida, e, como ainda estamos sob o efeito do champagne, até que essa etapa vai muito bem. Até que chega o primeiro prato: salada verde e foie gras. Camisa rosa estampada, engenheiro de embalagens se coloca a tirar fotos de todo mundo comendo, e a expressão de sua companheira engenheira da L’Oréal passa do tédio à ira.

Segundo prato: noix de Saint-Jacques. Casal simpático pede informações sobre o Brasil, e o centro da conversa gira em torno da gente. Falar de turismo esgota em 12 minutos e 34 segundos, mas ficamos os dois discorrendo sobre as maravilhas do país tropical por um longo tempo, até que os pratos e os vinhos, graças a Jesus Luz, começam a chegar.

Mas como nenhum assunto cola mais do que o Brasil, as pessoas insistem, mas sem querer ouvir. E a gente não quer mais falar. Garçons servem o terceiro prato: rumsteack de vitelo e legumes. Camisa rosa estampada continua a tirar fotos dos integrantes da mesa comendo. Petit-ami confessa para mim, em português: « Tô de saco cheio dessas pessoas ».

Namorado da prima começa, visível e antipaticamente, a rir da situação. Ela não aprova o comportamento dele, até que ele resolve levantar e abandoná-la – nada phino. Casal simpático cansa o sorriso e amarela. Casal « opostos também não se atraem » têm uma pequena discussão. Chega o prato de queijos.

E a mistura de vinhos que começa a dar sono. E o sai e chega da mesa que não cessa nunca porque cansamos de ser jovens e simpáticos. Comemos a sobremesa em silêncio à uma da manhã. No banheiro, esbarro com a moça de cabelo azul e não sobra nada de motivação social entre a gente além do « acabou o papel higiênico ». Nada, nada phino.

Um milagre chega dos céus quando o café é servido. DJ começa seu trabalho, e os integrantes da mesa fingem se levantar para dançar. Até daqui a pouco é a não-vontade do momento. Cafeína acorda nossa proatividade.

Uma troca de olhares entre petit-ami et moi basta. « Anima? », petit-ami pergunta. Ô, se animo. « Agora? ». De-mo-rô! Pegamos nossas coisas e vamos em direção à pista de dança. Coincidentemente a porta da saída ficava ao lado. Foi por ali que sumimos sem nos despedir de ninguém, sem trocar contatos, sem esperanças para futuros encontros. Ou palavras de gentileza. E abandonamos o festejo completamente à inglesa, depois de um casamento à francesa. Muito adequado.

* Dany Darko quer café e televisão, rápido, por favor. Sempre avisa quando é pra parar de fazer a íntima. Porque sociability is hard enough for her. É cinza, aqui, às quartas, e rosa, , nos outros dias.

14 Comentários

Arquivado em correspondente internacional, Dany Darko, festas phinas, ralaçã sã?, vergonha alheia

14 Respostas para “Anti-social mundial

  1. As comidas pareciam boas Darkinho…

    O bom de ser solteiro é isso, tu só vai a casamento de amigo legal. Este ano terei um em Portinho, setembro, e tenho certeza de que será delícia pura.

    E tu foi phiníssima no casamento do cunhado, comportamento exemplar, parabéns.

    Bjs

  2. Monica

    Nossa, fiquei cansada só de ler toda a sequência de torturas a que vocês foram submetidos (para mim, pelo menos, seria ao ver um foie gras na minha frente).

    • O foie gras também fazia mal aos meus instintos bonzinhos logo que cheguei. Mas, enfim, à (quase) tudo a gente se habitua.
      Pode ficar tranquila que eu não farei terrorismo contigo com o estoque de foie gras do Florent quando tu vieres aqui em casa =D

  3. Dany, que sofrimento! Acho que não me convidam pra casamentos porque sou pública e notoriamente anti-social.
    Odeio conhecer gente nova nessa situação específica. Num bar vá lá…

    Mas achei a tua saída do casório exemplar!!

    Beijos.

  4. Di

    engraçadíssimo post!

    tenho verdadeiro horror desse tipo de situação…

    =P

    Beijos

    • Di, acho que o nosso horror a esse tipo de situação é proporcional ao número de incidência delas.
      Cruza os dedos para as minhas performances só melhorarem para os próximos casamentos que virão (não são poucos)!
      beijoca!

  5. Ms.Riverside

    Casamento, batisado, velório, festa de 15 anos, chá de panela, chá de fralda, formatura, formatura do prezinho da filha da amiga: NOT não vou meeeeesmo!

  6. Uma vez, fui com o administrativo a uma entrega de prêmio de design em NYC. Na nossa mesa, portuguêses e japonêses.
    Foi legal, trocamos poucas palavras, alguns sorrisos e cada casal jantou e assistiu à premiação alheio aos demais.
    Adoro encontrar gente tão anti-social quanto nós.

  7. Di

    Dany,

    dedos cruzados desde já!

    Beijos e obrigado pela visita lá…

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