Acordou meio falcatrua hoje?

Mentiras sinceras não me interessam

Mentiras sinceras não me interessam

Por Dany Darko*

Quando o nono me contava dos velhos tempos, ele dizia que o que ele mais sentia saudades daquelas épocas era a importância da honra da palavra. Segundo ele, lá no início do século passado, os contratos eram verbais e as pessoas davam importância àquilo que prometiam.

O nono se foi no final do século, nem viu a chegada do XXI. Mas reclamava frequentemente da falcatruagem do fim de seus dias e nos advertia com uma frase que ficou na memória da família: « se não fossem os tontos, os ladinos não existiriam ».

A verdade, lá em casa, sempre foi prioridade justificada com a origem. « Essa tem franqueza até no nome », diziam de mim na escola, enquanto eu saía me esgoelando pelo mundo e dizendo tudo o que eu pensava, na inocência de que a sinceridade é sempre a melhor solução.

E, claro, só me fodia.

Passei anos dessa longa estrada da vida a levar na cara por conta das verdades proferidas. Nunca aprendi a mentir. Mas apoio até hoje o sentimento do nono que uma das qualidades mais phinas que se pode ter é a franqueza.

Mas definitivamente, não é a mais prática.

Eu realmente espero a ligação quando alguém diz que vai me telefonar. Espero o convite para a saída no final de semana, mesmo que a promessa seja feita dias antes. Acredito quando me juram qualquer nonsense que seja. Não sou a mais pontual das pessoas – admito –, mas marco presença em todos os rendez-vous combinados.

Ah, se o nono estivesse vivo, ele sentiria muito orgulho, muito mesmo. Dele, não de mim. Porque ele teria a concretização pura do seu ditado. Eu sou a tonta perfeita para todo « ladino ». É vero. Mas se serve de consolo ou justificativa, o malandro só tem uma vida comigo. E ele aprende que meu limbo é pior que o inferno.

Em uma visita recente, uma amygue que se mudou para São Paulo contou que a maior dificuldade na capital era de manter os compromissos por conta dos desencontros que gera a cidade grande. « São Paulo é imensa e às vezes as pessoas não conseguem chegar a seu destino. No meio do caminho, elas esquecem que marcaram com você ».

Acreditaram? Nem eu, nem ela.

Insatisfeita com suas próprias justificativas, a amygue me garantiu que, na metrópole, é tudo uma questão de espaço x tempo. NOT. Eu ainda acho que, em qualquer lugar do mundo, ela deveria mesmo era rever seu conceito de amizade…

A boa parte disso tudo é que de tanto levar balão na vida a gente se habitua amadurece. Com tanta falcatruagem solta por aí no mundo, fica mais fácil enxergar as verdades. Mais simples organizar as prioridades. E tão mais prazeroso dizer não.

* Dany Darko acordou meio intolerante hoje. Combate a falcatruagem às quartas-feiras, no EBDP.

2 Comentários

Arquivado em avisei que era bafona, correspondente internacional, Dany Darko, fica aí a dica, sentimentos phinos

2 Respostas para “Acordou meio falcatrua hoje?

  1. vini

    2 songs:

    “How come no-one told me
    All throughout history
    The loneliest people
    Were the ones who always spoke the truth”
    Kings of convenience, “Misread”.

    “Might trick me once, won’t let you trick me twice”.
    Kelis, “Trick me”.

  2. Criz

    Daniele Frank
    como estás phina nesse blog
    eu lendo o Sóror Dany, vim dar uma escapulida por aqui

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