Epifanias têm olhos azuis

Perai, there is no scientific evidence

Peraí, there is no scientific evidence

Por SextaSessão*

Epifania. É essa a palavra.

Quando, em um átimo, uma revelação “divina” se desvenda inesperadamente diante dos teus olhos. Tu não sabes como conseguiu viver até então sem conhecer aquilo. Sabes que vai mudar a tua vida. E que vais lembrar desse momento para sempre.

É diferente de “encontrar Jesus”, um processo conquistado, que te modifica aos poucos e altera tua concepção permanentemente. Tive alguns “jesuses”, mas só duas epifanias na vida.

A segunda foi em dezembro de 1996, madrugada de sábado, 01h e pouco. Liguei a TV para embalar o sono e escolhi um canal de seriados.

A primeira cena: um par de olhos azuis, de propriedade de uma baixinha ruiva, levemente acima do peso. Linda, armada, vestida de terninho phino, tentava proteger um garoto com poderes paranormais/bíblicos.

Congelei na frente da TV. Não parecia um seriado comum. Muito menos americano (a atriz puxava nos “esses” um certo accent britânico) . Embarcada num bonde andando, não entendi muito, mas achei que tinha sinais de Borges, Allan Poe, “Além da Imaginação” e, no clima de tensão sexual da ruiva e seu parceiro, “Moonlighting”.

Depois desse dia, me converti em “eXcer” e tive mais seis anos de intensa felicidade. Não é uma metáfora, quero dizer exatamente isso: The X-Files me deu anos de intensa felicidade.

Não foram raras as vezes em que meu coração disparou, que ri, que senti vontade de chorar ou que me peguei, em outros momentos do dia, refletindo sobre como poderia se resolver a bom termo o amor reprimido dos agentes, como se fossem eles um casal de amigos. Depois descobri que havia diagnóstico e nome para a minha doença: eu era uma shipper.

Sempre preferi Scully ao Mulder. Talvez por tê-la visto primeiro. Talvez por ser ruiva. Talvez pelo sotaque. Talvez por ser ela a racional da dupla. David Duchovny sempre me pareceu um apêndice lindo e chato.

Meu episódio favorito é o que a Gillian Anderson dirigiu, “All things”. Depois da introdução de arrepiar, assisti até o fim sentada na ponta do sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos, tronco inclinado para frente, como se quisesse me atirar para dentro da TV. A música da trilha, The Sky Is Broken (assista ao clipe abaixo**), me levou a conhecer Moby.

Na época, comprei uma capa de chuva do tipo gabardine (não era nenhum Armani) e pintei o cabelo de ruivo (uma das minhas aventuras capilares desastradas). Hoje, encontrei e dei-me de presente de ano-novo o livro
The Complete X-Files: behind the series, the myths and the movies
.

É lindo, é digno, é phino. E eu mereço.

**Se não abrir, clica duas vezes e assiste no Youtube.

*SextaSessão teve sua primeira epifania numa tarde de terça-feira, dia ensolarado, julho de 1991, sob a forma de olhos azuis. Queria ter nascido ruiva e inglesa, mas se conformou com o cabelo castanho e o sotaque alegretense. Escreve neste blog nas sextas-feiras e, quando dá na veneta, aqui.

3 Comentários

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3 Respostas para “Epifanias têm olhos azuis

  1. Nunca me interessei muito por X-Files. Não sei explicar por que. Talvez porque não seja muito de seriados mesmo. Me fascina Twin Peaks, fascinou Sex an the City e estou meio pirado por Gossip Girl. Talvez a semi-falta de interesse seja porque não tenha muito controle sobre as coisas, então melhor não inventar muitos seriados na minha vida. Agora se formos falar de epifanias…

  2. Colega maluca 1

    Sim, Rafa, eu me surpreendi também por esse fascínio de SextaSessão por Arquivo X.. Tb acho linda a Scully, mas a verdade é que o seriado sempre me veio à mente grudado com as palavras Nerd, exótico, geek… bom, é sempre bom começar o ano rompendo paradigmas

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